Em meio a tantos retrocessos em nossa
sociedade, falar da luta antimanicomial é mais do que necessário.
A exemplo de outros países mundo afora, o
Brasil viveu dias tenebrosos no que se refere a saúde mental. Confinamento
indiscriminado e compulsório. Doenças e transtornos mentais leves a moderados
tratados como casos de demência. Prostitutas, homossexuais, moradores de rua, alcoólatras,
vítimas de estupro, mulheres com senso de liderança, contestadores e militantes
políticos. Ou casos de doenças mentais mais graves, todos num mesmo destino: o
manicômio.
Eletroconvulsoterapia, sedativos pesados,
super lotação, ausência total de condições de higiene, alimentação, abrigo e atendimento
inadequado. Esta era a realidade dos manicômios.
Podemos citar vários casos, como o famoso
Juquery, no município de Franco da Rocha, na grande São Paulo, e o famigerado
Hospital Colônia de Barbacena (MG), escrito e documentado como uma filial do
inferno.
“Crianças pelo chão, entre moscas. Nenhum
brinquedo, um psiquiatra qualquer […] Pessoas aleijadas, arrastando-se pelo
chão, feito bicho. Agrupadas para não serem pisoteadas na hora da comida.
Esperando a maca, a liberdade somente possível através da morte. Um asilo
medieval, de pedra e barras de ferro. Úmido, frio e indesejável. Celas e
eletrochoques, e todas as torturas médicas. Nenhuma assistência ou calor
humano. Como em um campo de concentração”. — Hiram Firmino, 1979.
Até hoje a justiça não foi feita. Mais de
60.000 pessoas morreram no Hospital de Barbacena. Até hoje não houve
investigação das mortes, nem dos indícios da venda de corpos para as faculdades
de Medicina de MG, uma vez que o cemitério local não comportava mais corpos e estes
simplesmente sumiam.
Contra este estado de "tratamento
mental", teve início, com a corajosa psiquiatra Dra. Nise da Silveira, uma
verdadeira revolução no tratamento da saúde mental no Brasil. Aluna de Carl
Jung, lutou contra o eletrochoque, a lobotomia e o confinamento. Foi a única
mulher da turma da Faculdade de Medicina da Bahia em 1931. Foi presa na Era
Vargas por porte de livros marxistas.
Entre os anos 40 e 50, passou a desenvolver
diversas atividades artísticas junto aos pacientes, revolucionando a
psiquiatria no país através de estúdios de modelagem e pintura, além de também
introduzir a terapia com o convívio de animais.
Em 1956, criou a Casa das Palmeiras, para
reabilitação de ex internos de manicômios, o que viria a ser o embrião do
conceito de CAPS - Centro de Atenção Psicossocial.
Já em 1987, no dia 18 de maio, profissionais
da saúde mental, reunidos em Bauru/SP, iniciaram um movimento que deu origem ao
SUS e a permanente luta antimanicomial, que não deve jamais ser esquecida.
Nem
um passo atrás!
Trancar não é tratar!
Professora Alessandra Gurgel
Seres humanos levados involuntariamente a locais que eram o inferno na terra...nem um passo atrás!💪🤜
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