segunda-feira, 18 de maio de 2020

18 de maio: Dia da Luta Nacional Antimanicomial


Em meio a tantos retrocessos em nossa sociedade, falar da luta antimanicomial é mais do que necessário.

A exemplo de outros países mundo afora, o Brasil viveu dias tenebrosos no que se refere a saúde mental. Confinamento indiscriminado e compulsório. Doenças e transtornos mentais leves a moderados tratados como casos de demência. Prostitutas, homossexuais, moradores de rua, alcoólatras, vítimas de estupro, mulheres com senso de liderança, contestadores e militantes políticos. Ou casos de doenças mentais mais graves, todos num mesmo destino: o manicômio.

Eletroconvulsoterapia, sedativos pesados, super lotação, ausência total de condições de higiene, alimentação, abrigo e atendimento inadequado. Esta era a realidade dos manicômios.

Podemos citar vários casos, como o famoso Juquery, no município de Franco da Rocha, na grande São Paulo, e o famigerado Hospital Colônia de Barbacena (MG), escrito e documentado como uma filial do inferno.

“Crianças pelo chão, entre moscas. Nenhum brinquedo, um psiquiatra qualquer […] Pessoas aleijadas, arrastando-se pelo chão, feito bicho. Agrupadas para não serem pisoteadas na hora da comida. Esperando a maca, a liberdade somente possível através da morte. Um asilo medieval, de pedra e barras de ferro. Úmido, frio e indesejável. Celas e eletrochoques, e todas as torturas médicas. Nenhuma assistência ou calor humano. Como em um campo de concentração”. — Hiram Firmino, 1979.

Até hoje a justiça não foi feita. Mais de 60.000 pessoas morreram no Hospital de Barbacena. Até hoje não houve investigação das mortes, nem dos indícios da venda de corpos para as faculdades de Medicina de MG, uma vez que o cemitério local não comportava mais corpos e estes simplesmente sumiam.

Contra este estado de "tratamento mental", teve início, com a corajosa psiquiatra Dra. Nise da Silveira, uma verdadeira revolução no tratamento da saúde mental no Brasil. Aluna de Carl Jung, lutou contra o eletrochoque, a lobotomia e o confinamento. Foi a única mulher da turma da Faculdade de Medicina da Bahia em 1931. Foi presa na Era Vargas por porte de livros marxistas.

Entre os anos 40 e 50, passou a desenvolver diversas atividades artísticas junto aos pacientes, revolucionando a psiquiatria no país através de estúdios de modelagem e pintura, além de também introduzir a terapia com o convívio de animais.

Em 1956, criou a Casa das Palmeiras, para reabilitação de ex internos de manicômios, o que viria a ser o embrião do conceito de CAPS - Centro de Atenção Psicossocial.
Já em 1987, no dia 18 de maio, profissionais da saúde mental, reunidos em Bauru/SP, iniciaram um movimento que deu origem ao SUS e a permanente luta antimanicomial, que não deve jamais ser esquecida.
 Nem um passo atrás!

Trancar não é tratar!

Professora Alessandra Gurgel



Um comentário:

  1. Seres humanos levados involuntariamente a locais que eram o inferno na terra...nem um passo atrás!💪🤜

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