terça-feira, 20 de outubro de 2020

HASTA LA VICTORIA SIEMPRE, BOLÍVIA!


Os povos de toda a América Latina assistiram desolados aos tremores sociais que atingiram a vizinha Bolívia a cerca de um ano atrás. Evo Morales, líder do movimento popular que em 2006 chegou ao poder em um dos países mais pobres do continente, historicamente explorado e violentado pelas grandes potências e pelos países vizinhos, com uma população composta em sua grande maioria por indígenas, fez da Bolívia um Estado Plurinacional, apresentando os melhores índices de crescimento econômico da região da última década e promovendo uma expressiva melhora nas condições de vida de seu povo. Estava em vias de chegar ao seu quarto mandato consecutivo quando teve de abandonar seu posto às pressas, para não ser arrastado pela onda de violência que resultou no mais nefasto golpe liderado pela extrema-direita ocorrido na região nos últimos anos.
Seguindo a nova moda dos elementos pró-imperialista nos trópicos, a senadora Jeanine Áñez foi auto-proclamada presidente interina do país, impondo um governo de viés fundamentalista que mergulhou a Bolívia em um mar de extrema violência que há muito ali não se via. Sob medidas de verdadeiro Estado de exceção, vimos nestes agonizantes meses, policiais e milícias de extrema direita perseguirem, prenderem e assassinarem centenas de dirigentes sindicais, militantes de movimentos sociais e líderes comunitários.
Após meses de conflitos e paralisações vistas nas ruas do país, a reação popular conseguiu neste domingo, após o regime ter adiado por três vezes as eleições presidenciais desde o golpe em outubro do ano passado, a fim de tentar criar uma situação favorável para se legitimar sob a faxada da legalidade, impor aos golpistas uma impactante derrota nas urnas. Luiz Arce, candidato do MAS e ex-ministro da Economia de Evo Morales foi eleito em primeiro turno com aproximadamente 53% dos votos válidos, mais de vinte pontos à frente do segundo colocado, Carlos Mesa. O retorno do MAS ao governo é para a esquerda latino-americana um dos eventos mais importantes ocorridos neste caótico ano de 2020. Alem disso, marca uma das grandes derrotas sofridas pelo imperialismo e pelo fascismo que ameaçam todas as nações do continente. Não imaginemos nem por um instante que a Casa Branca e as elites locais não tornarão a tomar impulso para uma nova escalada golpista. As eleições estadunidenses deste ano jogaram parte da esquerda para a torcida organizada de Joe Biden contra Donald Trump, vendo em uma eventual vitória do democrata, o enfraquecimento de Bolsonaro e da extrema-direita na região.
O que esquecem nossos bem intencionados companheiros é que o imperialismo não abandona suas pretensões conforme trocam seus governos. A Doutrina Monroe está em pleno vigor em sua versão mais violenta desde o fim da Guerra Fria, e a submissão de todo o continente continuará sendo o objetivo maior da política externa de Washington; do lítio boliviano e do petróleo venezuelano à floresta amazônica, a rapina de toda nossa riqueza e patrimônio nacional, e a cruzada contra Maduro e a Revolução Bolivariana continuarão a ser a prioridade dos EUA seja qual for o nome à sua frente.
O que vimos acontecer nesta segunda feira em La Paz vem à luz já sob a mira das armas do imperialismo, cedo ou tarde os EUA irão cobrar de seus vassalos uma nova tentativa de realizarem o golpe mal sucedido de 2019, mas o povo boliviano mostrou, para a glória de todos os povos latino americanos, que quando um povo compreende que sua emancipação é realizável, vale-se a pena lutar por ela até o fim. O país em que Che Guevara travou sua última guerra merece a solidariedade de todos que hoje lutam pela bandeira da soberania e da liberdade.
Ao povo boliviano, hasta la victória siempre!

                                                                                                        20 de outubro de 2020, Enfrente!


Diego Cana, membro da Direção da Enfrente