Os trabalhadores e trabalhadoras da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, conhecida popularmente como Correios, decretaram greve em todo o país na última segunda-feira, 17 de agosto. Dos 100 mil funcionários que trabalham nesta que é a maior e mais abrangente empresa do ramo de entregas do Brasil, cerca de 70 mil aderiram à paralisação que já completa uma semana de duração, e que conta com prazo indeterminado para acabar.
A greve eclodiu após vir a público que se consolidaria a suspensão de 70
das 79 cláusulas de um Acordo Coletivo feito entre os funcionários e a empresa
em outubro de 2019 - e que deveria durar até 2021 -, através de uma liminar apresentada
pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli ainda no ano passado, e
que acabou por ser referendada na última sexta-feira, 21 de agosto, já em plena
vigência da greve. Dentre os direitos retirados ou atingidos pela revogação do
acordo, estão a diminuição da licença maternidade de 180 para 120 dias, o fim
do pagamento de horas-extras e adicional noturno e o fim do auxílio-creche,
além do aumento da alíquota do plano de saúde dos funcionários.
Assim como outros segmentos de entregadores, os trabalhadores dos
Correios pertencem a uma categoria de serviços essenciais, e estão entre
aqueles que mais estiveram expostos a Covid-19, e não apenas não pararam de
trabalhar um momento se quer, como ainda viram a demanda por seus serviços
aumentarem por conta da pandemia. Mas não apenas as questões de natureza
trabalhista sustentam a greve dos trabalhadores. A exemplo do que ocorre com outras
importantes estatais brasileiras, os Correios estão também ameaçados pelo
planos de privatizações do governo, ao que os grevistas se mostram severamente
contrários, fazendo dessa a maior e mais importante bandeira do movimento.
Não há empresa ou riqueza nacional que hoje não esteja sob a mira do fogo da agenda ultra-liberal lançada pelo movimento golpista que assaltou o Brasil em 2016, e que se perpetua de forma quase despótica nas mãos de Bolsonaro e Guedes, que aceleram como nunca o entreguismo de nosso patrimônio, a dependência e o atraso econômico do país, sob um regime cada vez mais abertamente violento e destituído de vias democráticas. Devemos salientar ainda que, o sucateamento dos Correios tem impacto direto nas condições de trabalho e na qualidade dos serviços prestados, nos últimos anos, até o momento cerca de 21 mil funcionários deixaram de trabalhar na empresa, e mais de 450 agências em todo o país foram fechadas. Ainda que a empresa registre saldo positivo desde 2017, e que desde 2009 não possua o monopólio de serviços de entregas de mercadorias, argumentos como a baixa rentabilidade e a inexistência de concorrência no ramo são usados deliberadamente pelos embaixadores do neoliberalismo.
Os Correios cumprem antes de tudo o papel de garantirem um serviço essencial
à nação, pois são a única empresa do ramo que atuam em todas as 5.570 cidades
brasileiras, garantindo o atendimento a regiões inteiras que jamais viriam a
ser contempladas por qualquer iniciativa privada por menos que o preço de sua
dignidade. Vale lembrar que a Federação dos Trabalhadores em Empresa Brasileira
de Correios e Telégrafos – a Fentect, se expressa acertadamente quando relaciona
os ataques aos direitos dos trabalhadores à intenção de se vender os Correios,
afinal todos sabem, menos empecilhos trabalhistas tornam mais rentável o
leilão..
Seja aos que ali trabalham, seja aos que solicitam seus serviços, a
privatização desta que é uma empresa pública estratégica não aponta qualquer
horizonte positivo para os brasileiros, ao contrário, terá como tarefa apenas inflar
os bolsos dos vencedores e dos marajás patrimonialistas, donos e árbitros do
típico e usual jogo da privataria.
Em defesa dos Correios, juntos dos trabalhadores e trabalhadoras que hoje lideram essa importante luta contra
o retrocesso, nos colocamos a dizer não às demissões, não ao trabalho sem
direitos, não à privatização!
Diego Cana, membro da Direção da Enfrente!