Protagonismo estudantil sempre
existiu. Talvez não com esse nome. E talvez sem tanta regulamentação. Ou tutela?
Uma rápida lembrança da História do nosso país resolve isso sem mais delongas.
Protagonismo estudantil aconteceu
em São Paulo em 1932, quando, dentre manifestantes de rua, havia um menino de
14 anos chamado Dráusio de Souza que foi morto a tiros por soldados. Ele não
estava sozinho. Estava acompanhado por outros estudantes que não aceitavam o então presidente da República, Getúlio
Vargas, governando sem uma Constituição.
Protagonismo estudantil aconteceu
em 1937 foi criada a União Nacional dos Estudantes, que não teve medo de afrontar
um grupo nazista no Rio de Janeiro em plena Segunda Guerra Mundial.
Protagonismo estudantil aconteceu
entre os anos da ditadura civil-militar, nos anos 60 e 70, quando estudantes se
organizavam para realizar encontros clandestinos correndo um risco enorme de
repressão.
Protagonismo juvenil aconteceu na
campanha pelas Diretas Já (1984) e no Fora Collor (1992). Estamos chegando
pertinho da época atual, aviso para quem possa pensar que é texto de museu.
“(...) Mas é você que ama o
passado e que não vê que o novo sempre vem (...)”
(Belchior)
E vem mesmo. Em 2015, o governo
estadual paulista pensou que seria moleza fechar um número de escolas até hoje
não exatamente definido, mas anunciado na casa das centenas. Ah, vale contar que
uma série de dados da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo é guardado
a sete chaves, sabia disso? Até professores universitários, doutores, com
pesquisas acadêmicas em curso, tem relevante dificuldade para acessar uma série
de informações de interesse público, sustentadas pelo dinheiro público e muitas
vezes “ficam no vácuo”, simplesmente. Para que tanto mistério?
Voltando. Quando este anúncio
chegou até as Diretorias de Ensino, e os nomes das escolas foram sendo pouco a
pouco divulgados, ah, não teve erro. O protagonismo juvenil aflorou da forma
mais linda possível. “O quê, vão fechar a minha escola? Ah, para!”.
Daí para adiante foram explodindo
ocupações estudantis em escolas Estado afora. Algumas resistiram meses. Alguém
pode abrir- a vontade- a boca para falar “Ah, os sindicatos e partidos
políticos influenciaram os inocentes estudantes”.
Bom, aí temos dois pontos.
Primeiro que se partidos e sindicatos tivessem tamanha influência, já teriam
tomado as rédeas da escola pública faz tempo, né? Só pensar um pouco. Segundo;
esse discurso sim desqualifica o protagonismo estudantil, como se todos fossem
ocos do couro cabeludo para dentro, acéfalos, marionetes, massa de manobra, sem
capacidade alguma de escolher os próprios rumos da sua vida. Passaram fome,
frio, foram atacados por invasores governamentais-impedindo o seu protagonismo
mais legítimo?-e também de outros “grupos”. Qual o crime? Impedir que a escola
fosse fechada? Tem coisa mais linda do que um jovem lutar pela própria escola,
pela existência física e pedagógica da mesma?
Protagonismo juvenil é o
estudante ter a sua própria entidade representativa. Se a UNE, a UEE, a UPES, a
UBES, ou qualquer que seja a sigla, não interessa, os estudantes tem o direito
de saber que podem criar outras. Tem o direito de saber que estas já existem.
Tem o direito de saber que grêmio estudantil não é da direção da escola, que não
precisam de benção e nem aval para existirem. Que assim como as categorias
trabalhistas tem os seus sindicatos, e os trabalhadores tem o direito de se
filiar ou não, os estudantes idem. Direito de conhecer. Direito de saber.
Direito de escolher depois de muito analisar.
É lindo ver nossos alunos
trabalhando em campanhas solidárias contra a fome, arrecadando agasalhos para o
inverno, envolvidos em campanhas de reciclagem e jardinagem. Não contem ironia.
Pois isso é realmente ótimo, desperta excelentes valores de organização
solidária e empatia com o próximo. Mas paramos por aqui? Nossos alunos sabem o
nome do Ministro da Economia, sabem para que serve uma CPI, foram informados de
contrapropostas aos itinerários formativos? Quais serão as consequências do “Novo
Ensino Médio” daqui a 20 anos? Apagar a História é um meio bem prático para
passar o rolo compressor. Em meio a uma pandemia. Com o nosso dinheiro direto para
as mãos de bilionários. História incomoda, né?
Alessandra Fahl Cordeiro Gurgel*
*Bacharel em História, Licenciada
em História (PUCSP), Professora da Secretaria de Educação do Estado de São
Paulo, autora do livro “Numa Tarde de Neblina”, coautora da Coletânea “Além da
Terra Além do Céu” vol. IV, Militante da Apeoesp Subsede Franco da Rocha e da
Enfrente!.
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